terça-feira, 13 de maio de 2008

O Português e a Travessia das Estradas

Isto não será de todo um poema, mas sim uma nota sobre um curioso hábito do português.

O português confundiu o desenrascanço com a essência do destemido aventureiro, mas ficou apenas a meio caminho entre o épico e o ridículo. Como tal, sente-se sempre tomado por uma intensa adrenalina ao entregar-se a louváveis e (sim) arriscadas (inúteis) façanhas que se prendem sobretudo com a pulsão da fuga à civilização, não na sua feição mais poética de regresso ao estado de "Bom Selvagem", mas numa tentativa sempre bem sucedida de ingressão em práticas desordeiras e fora da lei.

Atravessar uma estrada quando o sinal para peões está vermelho poderá ser bastante perigoso! No entanto, quantos ousam carregar no botão para accionar o sinal verde para peões mais depressa? Ah, o bom português privilegia o instinto sobre a tecnologia!! E que adrenalina tamanha atravessar a rua quando o sinal está bem vermelho...

Não se julgue porém que esta atitude de rebeldia e inconformismo, talvez de alguma leve e perfeita estupidez, de sentir o pulsar da adrenalina ao atravessar uma estrada sob um sinal vermelho, é o fruto presente do heroísmo lusitano de outrora. Não. O português esconde secretamente um medo que o atormenta de cada vez que sai à rua: o medo de apanhar um choque letal ao accionar aqueles botõezinhos que fazem com que o sinal verde se acenda mais rapidamente.
Apesar de tudo o que se possa dizer em contrário, o português teme a tecnologia!

Uma morte por electrocussão nos semáforos. Centenas por atropelamento.

O sangue heróico português sabe pouco de matemática.