sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Encontro...

Um beijo
Um encontro
Uma estrela
Mãos que se unem
Corações que se fundem...

A fluidez dos gestos
ante a mudez das palavras...

Para quê palavras
Ante a força de gostar...

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Desencontro...

Palavras que enchem os sons de silêncio
Sons que nos fazem surdos
E nos ecoam cá dentro, esmagam, retinem
Consomem...
Palavras podres de repetidas
e que se repetem sem que ninguém as diga
Uma vez ditas as palavras são gumes afiados para sempre
que nos rasgam eternamente
Nem um beijo as apaga
Nenhum abraço as corrige...

A vida é feita do vazio carregado nas palavras
Do cinzento que elas exprimem
E do vermelho com que por vezes nos tingem...


(Eu queria ouvir o som das estrelas
mas ouço o silêncio carregado no ruído das palavras)

sábado, 27 de outubro de 2007

Epitáfio

Há um mês que não escrevo no blog...
Subnutrido, é capaz de vir a morrer em breve!

A vida prática traz-nos para longe de coisas tão simples e... agora não ando nem com tempo nem inspiração para aqui escrever... Sinto-me feliz com a vida e quando assim é prefiro contemplá-la do que reflectir sobre ela...

Por isso talvez o blog morra aqui... enfim... pode ser que não... quando os trabalhos começarem a apertar talvez volte "aquilo" que nunca soube definir o que é, mas que me faz ter vontade de escrever ou de pensar naquilo que escrevi ou que poderia ter escrito, ou naquilo que deixei de fazer enquanto escrevi e pensei.

Não sei se alguém ainda se dá ao trabalho de vir aqui após um mês de pausa, mas se sim, sois boas almas e todo o Esplendor da Eternidade Vos Aguarda quando esticardes o pernil!!
Muito obrigada... Sei que não sou importante mas às vezes regozijo-me com essa ilusão.

Ámen...

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Tudo é misterioso..


Tudo é misterioso
E eu não sou nada.

As verdades e as mentiras
Nada têm de dogmático:
Já viste como trocam de pele,
No silêncio,
Só para nos contradizer?

E eu acredito em tudo
Com uma descrença e desprendimento absolutos.
Reduzo-me à minha ignorância
E teimo como quem brinca ou mente.

A lógica é frágil
E a razão caminha segura
Em pontes sobre a loucura.

Tudo é circular e não há limites
Entre sensatez e disparate.

E assim, de tanto andar à roda
Para ver se encontro o que não acho,
Vejo a vida em círculos e é só isso que sei.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Já chega...












Já chega

Vamos começar do zero, Tomás.

A nossa casa brilha como uma estrela num céu negro, vazio

À nossa volta já não há ninguém

Somos só nós,

Eu e tu, Tomás.

Abraço a tua fotografia na noite escura

Onde só o nosso lar brilha

E choro

Mas não deixo as lágrimas cair

Para que essa pequena chama não se apague.

Tomás

Fui ontem ver-te

O teu corpo transmudado em flores

Sorria-me, viçoso

E acariciei os teus lábios

Ao tocar ao de leve nas pétalas daquela flor.

A minha única âncora

A este sítio

Onde apenas a nossa casa brilha

É curiosamente aquilo que me faz voar

E desprender o meu pensamento daqui:

O sonho.

Sim,

Só o sonho me mantém presa à terra.

Um dia

Quando o sol corroer de vez a cor da tua fotografia

Tão linda

Tão muda

Tão ausente

Então a luz da nossa casa

Tremeluzindo

Apagar-se-á.

Nesta terra de almas penadas

Não se verá vivalma.

Depois, não sei o que acontece;

Mas a minha fé diz-me que nos reencontraremos

E abraço o teu corpo morno

As flores morrem

E desprendem-se da tua pele macia

E tu renasces-me nos braços

Há muitas estrelas a brilhar

Recomeçamos a vida do zero

E a morte,

Enfadada com a nossa vivacidade

Vai adormecer,

E nada entre nós vai voltar a morrer.


Mas a tua fotografia continua garrida

E aperto-a contra o peito

Na esperança de que renasças do chão,
Como um rebento do meu amor.

A outra vida que deus promete

Fica longe

E foi nesta que os nossos passos deixaram rasto

E sou demasiado fraca para abandonar as memórias

Que são aquilo de que me alimento.



4 de Fevereiro de 2004

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Solidão II

Por vezes aterro numa outra dimensão. Vejo uma mulher ressequida, magra, de aspecto duro. Essa mulher lembra-me uma jarra de barro tosca, quebrada na borda e já a perder a tinta.
Cabelos desalinhados, olhos vazios e tristes, como se lhe tivessem levado parte da alma, cigarro na mão, escape do coração cinzento.
Uma mulher a tentar encontrar nas palavras, desesperadamente, o sentido que lhe haviam garantido que a vida tinha, afinal.
Mas por mais letras que juntasse nenhum sentido emergia.

Sentia-se só… tinha acreditado mais nas palavras do que nas gentes, mas as palavras devolviam-lhe a solidão e a desconexão como um espelho.

Solidão

Solidão.
A solidão é o que nos acompanha em todos os momentos da nossa vida… Quer estejamos sós ou entre amigos. Nunca somos capazes de sentir o que os outros sentem, por mais que os toquemos ou os beijemos, por mais que os amemos, nunca são uma parte de nós, nunca vemos o mundo com os seus olhos nem tocamos na vida com os seus dedos.
“Nunca julgue seu vizinho até andar duas luas nos mocassins dele” – Provérbio Cheyenne. No entanto, por mais que andemos com os mocassins do vizinho, nunca saberemos o que ele sente ao pisar o mundo: provavelmente não calçamos o mesmo número, se calhar temos calos ou ele pode ter os pés inchados. Talvez a sabedoria dos índios tenha falhado neste aspecto.

Irremediavelmente e aterradoramente sós – por mais que usemos mocassins emprestados – esta é a condição humana.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Tecto negro














Vim do vácuo,
Da escuridão,
Que as estrelas iluminam
De negro.

Vim de um sítio
Onde nunca soube
E aonde não voltarei
Porque deixei passar
O cometa que me trouxe.

Não conheço o mundo
Em que me vou afundando
Não sei o que faço
Nem o que faça.
Sinto-me estranha
E incrivelmente sólida
Na fluidez do tempo e do espaço.

Não me reconheço
Nos rostos que me olham
Nem no espelho.

Mas sei que
À noite,
Quando durmo,
Ficamos todos unidos
Pelo mesmo tecto negro
Onde as nossas alegrias cintilam
E os medos escorrem
Como estrelas cadentes.
Afinal,
Somos todos estrangeiros
No mundo em que vivemos.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Sombras...











Se obstruíres a luz
Da tua existência
Com medos vãos
E opacos
Que não deixam a vida
Escoar,
Obterás
Sombras que alastram
E te assombram
Nesta viagem fugaz.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Quando choras...

Quando choras
E limpas os olhos
As lágrimas ensopam-te as mãos,
Uma gota de tristeza
Brilha nas tuas mãos.
Só tu podes apagá-la.

Mas se insistes em chorar,
Já não são as lágrimas
Que pingam dos teus olhos para as tuas mãos,
Mas é a vida que te escorre entre os dedos.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

...












A verdade última
É que não existe verdade nenhuma.
Tudo é acaso
E o acaso não tem razão.

O instinto é que nos guia
Até ao velo d’ouro.
A razão é como
Um vento forte que nos afasta
Das rotas da felicidade,
E é como um mar
Que nos engole
E afoga em angústia.

O instinto é a força interior
Que descobre o céu dos nossos sentimentos
Quando chove.
O instinto sopra as nuvens para muito longe.
Depois o céu fica azul
E a felicidade
Já pode andar de mão dada connosco,
Porque pode esticar o seu braço dourado
Porque já não há nuvens
E porque a felicidade é o Sol
E o sol só não existe
Quando os homens
Tapam a vida com nuvens
Feias e tristes
E perdem o instinto de as soprar.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Os jogos de sombras...




Os jogos de sombras nas paredes do quarto
Morreram
Quando a luz crua
Invadiu clandestinamente
O nosso templo antigo.

A lanterna com que desenhávamos
Círculos vivos no tecto de gesso
Desgastou-se com a perda de ânimo.
Alguém perdia a magia.
Alguém crescia.

As sombras como o sonho e a lua
Minguaram.
A empregada sacudiu o napron
E tanto a lua como o sonho como as sombras
Rolaram inúteis pelo chão.
Depois passámos,
Altivas e eloquentes
Como papagaios em poleiros
E pisámos, quebrámos
Um passado esquecido.
Inconscientemente
Assassinámos a nossa própria essência.
(Também, para que serve ter uma?)

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Cara Margarida...


Queria deixar aqui no meu blog um profundo agradecimento à Margarida Rebelo Pinto por me ter incentivado, ainda que de forma totalmente involuntária, a criar um blog!
Depois de quase ter caído na tentação (confesso) de enviar um conto para o blog da minha amiga Margarida para que este fosse aí publicado e posteriormente sujeito a uma votação e de seguida hierarquizado consoante o número de votos que obtivesse... Pensei para com os meus botões... Hummmm... naaaaa... não me parece!!!
Se a minha amiga Margarida pode escrever livros (e plagiar-se a si própria, segundo ouvi dizer...), porque é que eu não hei de ter um blog????
Fica aqui portanto o meu profundo agradecimento à camarada Margarida Rebelo Pinto pelo incentivo. Talvez um dia eu evolua até atingir o patamar de perfeição já atingido pela minha amiga!
Guidinha, és a minha heroína!


Soneto desconsertado




Foi como atirar uma pedra a um lago
E não ver absolutamente nada.
Só sentir na pele
O lodo que se despega do lago
E se pega à pele,
À tua pele.
Foi como semear
(e quem semeia
tem esperança
que algo nasça)
E colher a mágoa
Do que não nasceu.
Arrancar, colher um vácuo das entranhas da Terra,
Frustração.
O fruto mais amargo
É o que não chegou a ser provado.

O desconserto é um soneto
Sem cânone
E esta sensação
De ser aleatória
E de ter membros assimétricos.

E eu suporto que os espinhos da rosa
Me rasguem a pele,
Mas se a rosa não tem pétalas
O coração é uma folha amarga
Que cai e se pisa
Porque já não serve para nada.



17.11.2002

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Fora da escala


Uma alucinação
Sem palavras
Uma música
Que dança
Fora da escala
E eu já não pertenço aqui
Pertenço ao ópio
Do êxtase
Ao vácuo absoluto
A uma espécie
De ternura
Sem tacto
A um sorriso sem lábios
Lágrimas de néon.

- A vida enlouquece
A razão obscura
Porque a extravasa
Incomensuravelmente.



Ébria
Ante o absurdo
E absoluto da vida
Eu sou.

domingo, 19 de agosto de 2007

A Morte Equilátera


A beleza discreta
Das coisas quotidianas
Quando a luz do nosso olhar
Incide sobre o seu âmago.

As ruas subitamente tristes
Tão tristes
Se as poças de água
Espelham a nossa cinza
de gelo e monotonia

E um surrealismo baço
E plano
Geometricamente
Compacto
Envolve
A linguagem dos objectos
O acaso propositado
Da sua disposição mágica

E o vazio escorre-nos do peito
Para a calçada que jaz
E tropeçamos nele
No invisível
E intocável
Absurdo
Que domina

O dossier selecto
Sorri
Entredentes
As folhas alinhadas
Qual dentição perfeita

Na rua chove
Uma chuva que vem
De nós
Incapazes
De lágrimas
Os olhos lascados
O céu faz-nos o favor e chora por nós.

O dossier quer
Degolar
Deglutir
Digerir
E a geometria asséptica
Das coisas
São ângulos agudos
Que rasgam
As curvas
Do jogo de sedução.

Os caixões como
As ruas da cidade
São geométricos.
As pessoas são eternos pássaros
Presos num triângulo equilátero
Que enferrujam
Porque choram para dentro.

Nada

terça-feira, 14 de agosto de 2007

VISÃO INVISÍVEL






Às vezes olho da janela
E não vejo ninguém
E vejo um vazio,
Um eco do nunca.
Mas a Esperança
(Tranças deitadas pela janela
por um pôr-do-Sol desesperado)
Ilude-me
E ilumina
Como um relâmpago
Que se apaga
E a noite fica mais escura;
As estrelas iludem-me
Ainda.
Traço nelas o desenho do teu rosto,
Constelações inventadas,
Castelos de cartas que ruem antes de mim,
E desenho o teu rosto sem saber quem és
E procuro-te, ávida,
Num desconhecido
Que por acaso se conhece.
E és etéreo como a luz
Que sei que existe
Porque há frutos como há sombras
E sei que existes
Porque me vejo e me perco...
Mas não te encontro no vazio da rua.
Porque és a sombra daquilo que se não vê
E o eco do que se não ouve.

10.9.2002

(Afinal esta minha "visão" já não é "invisível" desde que conheci uma pessoa muito especial :) )

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Máscaras


Ser é demasiado abstracto para mim
Que gosto de jogar às escondidas
E tenho um armário mágico cheio de máscaras multicolores.

Ser é a ilusão de usar sempre a mesma máscara.
Mas tu não usas (ninguém usa!) duas vezes
A mesma máscara,
Porque quando a descolas do rosto
Ela desfaz-se
E nunca mais a podes usar.
Procuras uma parecida, sim,
Forjas uma personalidade coerente
Com a última que representaste,
Procuras uma máscara semelhante,
Porque jamais encontrarás aquela que ontem arrancaste
Sim, procuras uma coerência,
Uma continuidade que não há em lado algum
Porque nunca te ensinaram
Que o mundo avança em espirais quebradas, aos soluços,
Diariamente saltas etapas,
Diariamente e a cada momento nasces diferente
És outro,
Tens a ilusão que és o mesmo
Porque o filme de ontem está gravado na tua mente e
Desfila aos teus olhos quando passas pelo mesmo sítio por onde passaste ontem, que
Ah!!
Já não é o mesmo sítio afinal
Estás no nível acima da espiral de vidro que é a vida
(Como num jogo de computador)
a poeira que cobre as ruas é outra,
tu és outro e nem sequer páras
para pensar nisso.
Para quê?

sábado, 11 de agosto de 2007

Susana!


Declaro aqui que não paguei qualquer quantia à Susana para ela fazer comentários no blog, e que ela os tem feito de livre e espontânea vontade. :p

Muito obrigada Su!
Beijinhos***

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

A ilusão de eternidade...


A ilusão
De eternidade
É talvez
Tentadora.

Ouvir uma melodia
Que ritme o coração
E tentar acreditar
No colapso dos relógios
Que avisam o que queremos esquecer
É talvez
A insanidade perfeita.

Mas a música acaba
E o coração bate
Ainda.
É talvez um ponteiro tonto
Que dita as inaceitáveis regras
Da constante perda do eu.
Um dia o ponteiro
Transmutar-se-á
Na fatalidade de uma lança-
- E tudo pára de girar:
A eterna imutabilidade
Será a essência póstuma

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Formigas



Formigas pequenas
correndo
voando
Formigas negras
sem vida
correndo
Formigas cegas
Formigas loucas
Vazias
Já mortas
Formigas pequenas
Formigueiros grandes
Formigas sem tino
apenas cumprindo o destino
sem desatino sem desacato
Já mortas
morrendo
e correndo
pequenas
apenas

O sol da meia-tarde...


O sol da meia-tarde a pousar no outeiro.

O teu corpo de meia-idade repousando no ventre materno.

Amanhã o sol voltará.

Tu não.

Nessa cova escura onde te deitaste

Ainda o sol não se tinha posto

Dormes um sono inquieto

Perturbado pelo peso do que não chegaste a fazer

Nem ousaste sonhar

E o peso da terra verga sobre ti

Agora é tarde de mais para sonhar

O sol cai mas amanhã ergue-se de novo.

Tu morres para sempre

E nem a tua memória perdurará para além do sopro angustiado

Daqueles que julgaram amar-te

Os sonhos são o único nada que vale a pena

Dorme em paz

Já nada vale o arrependimento e a mágoa

Já nada podes

Amanhã é ontem para ti

Inspirar a terra é a tua única ambição.

O sol nasce todos os dias.

Tu nasces uma vez e morres,

Folha que caiu da árvore

E que já não dá para colar...
4 de Fevereiro de 2004

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

AH!

Ah! Agora que já não escrevo nem sei brincar com as palavras e que estou mais ou menos vazia e fútil por dentro ou então já relativamente reconciliada com a vida para escrever é que há blogs!!

Uns anos antes e o facto de poder escrever num blog ter-me-ia trazido tanta felicidade... naquela fase em que pensava que tudo o que saía da minha caneta era ouro... naquela fase em que numerava os poemas que escrevia... em que achava que eles eram mais "eu" do que eu própria...

Enfim, já vêm talvez um pouco tarde ,os blogs, ou talvez tenha sido eu que os tenha descoberto já demasiado tarde...

Mas sinto uma mudança no ar... Numa altura em que não sei o que hei de fazer com a maior dádiva que recebi (a vida) sinto-me instável, procuro-me e acho que já não sei bem quem sou nem o que quero, sou um pouco adolescente... Parece-me que a necessidade de me encontrar voltou... E revejo aquilo que um dia escrevi... Pode ser que algures no passado me encontre para poder viver a minha identidade por inteiro no futuro...

O BAILE DE MÁSCARAS

Esta é a história de Lia e João.


Lia e Rita estavam atarefadas na escolha da máscara para estrear no Baile de Finalistas. Havia-as de todas as cores e feitios, mas nenhuma agradava a Lia que preferia ir de cara descoberta.
- Que parvoíce! Nunca vi tal coisa... ir para um baile de finalistas com máscara... não era nada disto que eu tinha idealizado!
Rita não protestava. Tinha uma máscara cor-de-rosa na mão, salpicada de ínfimas estrelinhas brilhantes.
- Olha, esta deve ficar-me bem...
- Bâ... detesto isto.
- Minha cara amiga, agora já não se pode voltar atrás. E aproveita cada dia da tua vida... Pode sempre ser o último.
- Bem podia ser... nada disto faz sentido...
- Olha, deixa mas é de ser parva e vai ali experimentar esta máscara. Até é bem gira. Faz de conta que é o Carnaval de Veneza.



MAS NÃO ERA O CARNAVAL DE VENEZA. Era uma ameaça constante que pairava na atmosfera arroxeada. O medo que se tinha petrificado em máscaras tão dolorosamente inexpressivas como a agudeza do choro da alma e da raiva, da nostalgia por um passado que para sempre se perdera. A morte. O pânico, por vezes. Ou o pânico sempre, só que camuflado com máscaras anti-gás. O terror da iminência do terrorismo, há anos. E um gás tóxico e arroxeado abraçava o mundo venenosamente.

Sempre.





Lia chegou a casa e queria tirar a máscara e o fato. Olhou-se ao espelho. Parecia um monstro com aquela carantonha de borracha. Contemplar a humanidade do seu rosto era uma experiência tão remota que já mal recordava. Tinha horror às máscaras e aos fatos grotescos com que todos tinham obrigatoriamente de andar, como se fossem astronautas. E no fundo eram astronautas, porque se não podiam respirar o ar livremente, era como se o mundo não fosse deles mas fosse antes um mundo estranho, alheio. Muitas vezes ia na rua e chorava, e não podia limpar o rosto molhado porque não conseguia tocar em si própria. Bem, pelo menos ninguém conseguia ver as lágrimas a pingarem-lhe dos olhos... E os soluços ficavam também abafados... Para comunicar era preciso gritar através da máscara... enfim, o inferno à flor da Terra.

Apesar de estar pouco animada, acabou por ir nessa noite ao baile de finalistas. Quando acabou de se arranjar parecia a Pantera Cor-de-rosa vestida de astronauta. A máscara era até bastante bonita, tendo em conta que era uma máscara anti-gás: era ligeiramente rosada e brilhante, bastante mais estreita do que a que geralmente usava, logo menos assustadora, e... maravilha! Conseguia ver os seus olhos reflectidos no espelho. A máscara não era totalmente opaca como todas as outras. Antes de sair de casa colocou ao peito um crachá com uma foto sua estampada, de quando ainda podia sair com o rosto descoberto. A maior parte das pessoas também o fazia, para poderem ser identificados por algo que não fosse um simples nome ou a configuração de uma máscara de borracha. Espetou o seu sorriso eternamente inanimado no peito.

Ninguém reparou que era noite de lua-cheia. As partículas do gás tóxico faziam com que as pessoas se esquecessem que havia outros astros, estrelas, não porque provocasse amnésia, mas porque não lhes permitia contemplar as maravilhas celestes.
Com alguma dificuldade, no meio de tantos seres disformes, toscos e lentos, Lia acabou por conseguir encontrar Rita. Entraram juntas no recinto do baile, que era ao ar livre para minimizar os riscos de um possível ataque terrorista. Rita já saltitava frenética ao som da música do DJ, parecia uma bola de basket a ser driblada. Lia queria dançar, mas parecia que estava atarrachada ao chão. O sentimento permanente de raiva adensou-se-lhe e começou a correr, a correr, a correr o mais que pôde e tão depressa quanto pôde. Rita, entorpecida pela música, não teve a destreza de a seguir. Lia tropeçou numa pedra e sentiu raiva por não se ter magoado. Chorou convulsivamente até um vulto distorcido se aproximar dela e a tocar ao de leve. Mas foi um toque imaterial, porque nenhum dos dois o sentiu.
- Oi... então, o que se passa? Estou a ver que não te estás a divertir muito... Quando as estrelas morrem é como se o coração murchasse também.
Mesmo abafada pela máscara, era uma voz tão adocicada e melodiosa, que as lágrimas pararam de correr e a face secou, como se aquelas fossem as palavras mágicas.
Ela ergueu a cabeça para encarar de frente quem a interpelava e o coração de ambos brotou. O respirar de ambos, vibrante e compassado, parecia uma sinfonia inaudita. Ele vislumbrava os olhos dela, negros e brilhantes, sob a máscara. Ela não conseguia esquecer o mel das palavras dele.
-Sou o João. Oxalá conseguíssemos ver as estrelas... deve estar uma noite linda.
...a respiração em sintonia...
-Aliás, está uma noite linda, apesar de tudo. – continuou João.
-Mais bela seria se eu pudesse contemplar os teus olhos. Tenho a certeza que as estrelas morreriam de inveja.
-Todo este fumo que vês é produzido por elas. Têm medo de ficar ofuscadas com os teus olhos mais
negros e brilhantes que a própria noite. Coitadas, compreende-se, é uma humilhação para elas.
Lia riu-se, finalmente.
-Como é que sabes a cor dos meus olhos?
- Vê-se. A tua máscara é semitransparente e mesmo que não fosse, eu já sabia de que cor eram. Vi-os tantas vezes nos sonhos... Vamos aproveitar que finalmente nos encontrámos e dançar?
Ergueram-se e dançaram ao som da melodia que lhes ia na alma. Ao ritmo da respiração, sempre.
Contudo a respiração de Lia tornou-se mais ofegante e uma tosse convulsiva tomou-a. João, aflito, não sabia o que fazer. Subitamente, o seu olhar pousou num rasgão enorme no fato de Lia.
- Deve ter-se rasgado há pouco, quando eu caí.
- Há quanto tempo?
- Não sei bem... acho que perdi a noção do tempo...
A voz dela corria num fio cada vez mais estreito. Já não corria, pingava apenas. Lia já estava contaminada pelo gás venenoso. Não havia já absolutamente nada a fazer... apenas esperar o pior... que era mais do que evidente...
Lia tirou a sua máscara e despiu o fato. Foi como avistar uma flor no deserto. João não conseguiu deixar de ceder àquela imagem terna e breve e tirou também a sua carapaça.
- Não faças isso, João, não queiras vir comigo. Vive...
- E é viver ficar sem ti?
Selaram com os lábios todas as mágoas. Não havia mais nada no mundo para além daquela união. Inspiraram a morte lentamente no derradeiro beijo e só então inspiraram a essência da vida. Num suspiro simultâneo, morreram embalados no mais doce e terno beijo, envoltos no néon roxo e letal.

terça-feira, 17 de julho de 2007

POEMA panteísta


Porque o Sol brilha
Nalgum canto do Mundo,
Porque a Terra gira
E tudo é diferente a cada segundo,
Porque a vida nasce
E se desprende,
Porque as ondas do mar rebentam
E se refazem,
Porque o céu é o nosso tecto
E nos torna todos iguais,
Porque as estrelas são olhos que resguardam,
Maternais,
Porque os pássaros cantam
E todas as tristezas são fumo
Que um dia esmorece,
Porque nada na vida tem rumo
E o acaso leva sempre a melhor,
Porque a beleza dos momentos belos
É simplesmente indizível,
Porque o calor dos teus braços
É a estufa do meu sorriso,
Porque uma flor brota a cada hora
E um bebé pela primeira vez chora,
Porque há quem ame
E seja amado,
E porque somos irmãos na dor,
Porque a Lua é mágica e bela
Porque nunca se revela,
Porque as árvores se estendem mais alto
Que as guerras e a rotina,
Porque apesar de tudo
Há algo com vida em nós,
E porque somos afinal
Vulneráveis e imprevisíveis,
Porque ainda há água cristalina
Que nos embebe a sede,
Porque os olhos falam
E os teus são de mel,
Porque o universo é inteiro e secreto,
Porque há algo que permanece sempre
Nos mistérios da Humanidade,
Porque os deuses se moldam
Incapazes e ridículos
E porque a minha fé me leva além disto,
Por tudo isto
E porque tudo é inefável e silencioso,
Rezo nos meus risos
Uma prece
Tão muda de palavras
Quanto vibrante de vida,
E não peço nada;
Sorrio ao estranho
Que me olha... com estranheza
E as pedras da calçada sorriem,
Cúmplices da minha religião:
Que as Flores nasçam
E o Sol seja são.
Ámen.

Ruptura...

Nuwdbxwudw
uxbwugdvvx

Enlouqueci.
Z
Aqui
Aqui (no léxico)

Aqui
Wej899993rhhhhhh(onde??!)hvvvvvvvvvvvvvxe
(perdi-me entre conceitos que não soube definir. as palavras são vazias e apodreceram-me nos lábios quando quis pedir ajuda. na minha cabeça bóiam letras soltas que não sei ligar choques entrei em curto-circuito com a realidade zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz

não sinto tornei-me gelada como um computador que só compreende linguagem binária)
vida-morte
o que dói vem sempre antes e perdura
dura
dura
isto só pode ser loucura
... é loucura! Mmmmmmmmmmmjiwdbb3ugd
xoeji3yr8gdcvhjhyiqwhs2gu8gweuzxvywfex
dio3ei3bcx3bx

há muito tempo que isto perdeu o sentido que tinha e ganhou um sentido que não tem sentido absolutamente nenhum. alguém me quis ligar à corrente e estalei. enlouqueci. antes assim.2basu29h sinto-me um robot avariado que nem para a sucata serve porque ninguém quer saber de reciclagem. queria ser diferente fugir da linha de montagem mas um dia enferrujamos todos e eu enferrujei cedo de mais porque chorei e o metal não gostou sssssssweh3uevd3fry3fry crycdy3geheu3bsu3he8bu3 ebu3egu3vde hwdvefry3ev2whsvwge23 j dwd3ihdi3d3ihd3

Diz-me se isto tem sentido
DIZ-ME!!!!
Tu não és tu
Eu não sou eu
Ninguém é alguém
Somos peças sem vida própria
Duma engrenagem maléfica e maior
Corremos atrás de algo que desconhecemos
E que nos deixa um sabor a ferrugem na boca
Tão amargo...
Sobrevivemos sem viver
Uma imposição oca
Abafa-nos a vontade...qns82hs00x
Enlouqueci à procura de palavras diferenteswsd2
Arrancar os conceitos a esta monotonia que me estrangula
Mas vou morrer (se calhar mais cedo) do que aquele tipo
Que nunca procurou nada, que se limitou a ser o que lhe disseram que era suposto ele ser e não resmungou não arrancou desesperado as folhas do dicionário porque não vinha lá aquela palavra que ele não sabia qual era..................
Uhhhhhhhhhhhhhh988888888hhhhhhhh

Egocentrismo


Egocentrismo é a força que impele as pessoas a criar blogs.