"Chovia
Chovia como se não houvesse amanhã
E os céus se abatessem sobre a Terra.
Eu queria dizer
Por favor não vás
Por favor fica
És importante para mim
O dilúvio na Terra
Estradas feitas de rios
Fica não vás
Não te quero perder
Mas decidida a fundir-se
nesta Veneza de caos
e morte
Ela pegou na prancha de body board
Para secar a sua amargura
para sempre
No vergastar das ondas
que lambem as ruas
Distante e derradeira
As palavras amarrotadas na garganta
Esmagando o peito
Colando-o ao chão
Fica não vás
Uma réstia de coragem
ou talvez amor
E as palavras jorram
Como a água que varre a rua
Soluçam ondas de palavras
Quebrando a areia seca do silêncio amargo
Fica não vás
Adoro-te tanto
Não sabes quanto
És o meu Sol, a minha Lua
Sem ti não sei quem sou
Fica não vás
Eu embebo a minha secura
No amor que escorre em mim
silencioso e mudo
Fica não vás
És tudo
És tudo
(Não mergulhes nessa rua escura)"
Soluço num sufoco
Soluço
Soluço e acordo
deste sonho que é o remorso
o remorso de escolher sempre as palavras erradas
Ignorando que as palavras certas são inesgotáveis
que não se subtraem,
mas que só se podem multiplicar.
Morremos e matamos
quando as calamos no silêncio
E as substituímos por gumes
Que ferem e rasgam
Não a pele, mas um pedaço do coração
domingo, 6 de abril de 2008
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