domingo, 7 de setembro de 2008

.... ... ... .. . . .

Aqui estou
Branca e sólida
Gesso humano
Pedra morna

Fervilhando gelidamente
Friamente
Sem ternura
Fria mas sem frescura
Com paixão mas sem ternura

Repleta de vazio
Chocalhando areias soltas
areias soltas
escassas
ocas

Sacudindo peneiras
Sofismando vazios
Olhos frios

- Onde deixei as palavras? -
........
....
..
.
.

.


Emudeci...

(De certa forma, morri)

sábado, 6 de setembro de 2008

Spell.me

Spell.me
http://www.justspellme.webs.com/
Soletrar uma nova língua, deixar-se enfeitiçar :)
A mudez das palavras dá lugar à magia das palavras!

Aulas e explicações de Inglês e Alemão em Coimbra
914 812 999

terça-feira, 13 de maio de 2008

O Português e a Travessia das Estradas

Isto não será de todo um poema, mas sim uma nota sobre um curioso hábito do português.

O português confundiu o desenrascanço com a essência do destemido aventureiro, mas ficou apenas a meio caminho entre o épico e o ridículo. Como tal, sente-se sempre tomado por uma intensa adrenalina ao entregar-se a louváveis e (sim) arriscadas (inúteis) façanhas que se prendem sobretudo com a pulsão da fuga à civilização, não na sua feição mais poética de regresso ao estado de "Bom Selvagem", mas numa tentativa sempre bem sucedida de ingressão em práticas desordeiras e fora da lei.

Atravessar uma estrada quando o sinal para peões está vermelho poderá ser bastante perigoso! No entanto, quantos ousam carregar no botão para accionar o sinal verde para peões mais depressa? Ah, o bom português privilegia o instinto sobre a tecnologia!! E que adrenalina tamanha atravessar a rua quando o sinal está bem vermelho...

Não se julgue porém que esta atitude de rebeldia e inconformismo, talvez de alguma leve e perfeita estupidez, de sentir o pulsar da adrenalina ao atravessar uma estrada sob um sinal vermelho, é o fruto presente do heroísmo lusitano de outrora. Não. O português esconde secretamente um medo que o atormenta de cada vez que sai à rua: o medo de apanhar um choque letal ao accionar aqueles botõezinhos que fazem com que o sinal verde se acenda mais rapidamente.
Apesar de tudo o que se possa dizer em contrário, o português teme a tecnologia!

Uma morte por electrocussão nos semáforos. Centenas por atropelamento.

O sangue heróico português sabe pouco de matemática.

domingo, 6 de abril de 2008

O Dilúvio

"Chovia
Chovia como se não houvesse amanhã
E os céus se abatessem sobre a Terra.

Eu queria dizer
Por favor não vás
Por favor fica
És importante para mim

O dilúvio na Terra
Estradas feitas de rios
Fica não vás
Não te quero perder

Mas decidida a fundir-se
nesta Veneza de caos
e morte

Ela pegou na prancha de body board
Para secar a sua amargura
para sempre
No vergastar das ondas
que lambem as ruas

Distante e derradeira

As palavras amarrotadas na garganta
Esmagando o peito
Colando-o ao chão

Fica não vás

Uma réstia de coragem
ou talvez amor

E as palavras jorram
Como a água que varre a rua
Soluçam ondas de palavras
Quebrando a areia seca do silêncio amargo

Fica não vás
Adoro-te tanto
Não sabes quanto
És o meu Sol, a minha Lua
Sem ti não sei quem sou
Fica não vás
Eu embebo a minha secura
No amor que escorre em mim
silencioso e mudo
Fica não vás
És tudo
És tudo

(Não mergulhes nessa rua escura)"

Soluço num sufoco
Soluço
Soluço e acordo
deste sonho que é o remorso
o remorso de escolher sempre as palavras erradas
Ignorando que as palavras certas são inesgotáveis
que não se subtraem,
mas que só se podem multiplicar.

Morremos e matamos
quando as calamos no silêncio
E as substituímos por gumes
Que ferem e rasgam
Não a pele, mas um pedaço do coração

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Encontro...

Um beijo
Um encontro
Uma estrela
Mãos que se unem
Corações que se fundem...

A fluidez dos gestos
ante a mudez das palavras...

Para quê palavras
Ante a força de gostar...

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Desencontro...

Palavras que enchem os sons de silêncio
Sons que nos fazem surdos
E nos ecoam cá dentro, esmagam, retinem
Consomem...
Palavras podres de repetidas
e que se repetem sem que ninguém as diga
Uma vez ditas as palavras são gumes afiados para sempre
que nos rasgam eternamente
Nem um beijo as apaga
Nenhum abraço as corrige...

A vida é feita do vazio carregado nas palavras
Do cinzento que elas exprimem
E do vermelho com que por vezes nos tingem...


(Eu queria ouvir o som das estrelas
mas ouço o silêncio carregado no ruído das palavras)