domingo, 19 de agosto de 2007

A Morte Equilátera


A beleza discreta
Das coisas quotidianas
Quando a luz do nosso olhar
Incide sobre o seu âmago.

As ruas subitamente tristes
Tão tristes
Se as poças de água
Espelham a nossa cinza
de gelo e monotonia

E um surrealismo baço
E plano
Geometricamente
Compacto
Envolve
A linguagem dos objectos
O acaso propositado
Da sua disposição mágica

E o vazio escorre-nos do peito
Para a calçada que jaz
E tropeçamos nele
No invisível
E intocável
Absurdo
Que domina

O dossier selecto
Sorri
Entredentes
As folhas alinhadas
Qual dentição perfeita

Na rua chove
Uma chuva que vem
De nós
Incapazes
De lágrimas
Os olhos lascados
O céu faz-nos o favor e chora por nós.

O dossier quer
Degolar
Deglutir
Digerir
E a geometria asséptica
Das coisas
São ângulos agudos
Que rasgam
As curvas
Do jogo de sedução.

Os caixões como
As ruas da cidade
São geométricos.
As pessoas são eternos pássaros
Presos num triângulo equilátero
Que enferrujam
Porque choram para dentro.

1 comentário:

Anónimo disse...

este é daqueles textos que apetece roubar uma frase, mas depois continuamos a ler e depois já não sabemos o que tirar.. mas os conceitos de enferrujar porque choramos para dentro, ou do céu fazer o favor de chorar por nós tão no topo das minhas escolhas loool

bjinhos para uma autora que seria as delícias de um qualquer jorge palma, de uns toranja ou mesmo de uns mundo cão.. :D